Ver (17) ... a Pega-azul
De referir que está em revisão a sua reclassificação como nova espécie. Assim deixará de ser classificada como Cyanopica cyanus e passará a Cyanopica cooki. Isto segundo os estudos genéticos efectuados pelo Português Pedro Cardia em 2002. Dois anos de trabalhos levaram o investigador a concluir que a pega-azul que existe na Península Ibérica e na Ásia são, afinal, duas espécies diferentes.
Baseado em estudos genéticos que compararam o DNA mitocondrial da pega-azul que vive na Ásia e o da vive na Península Ibérica, Pedro Cardia, do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos da Universidade do Porto, concluiu que as duas espécies "estão separadas há três milhões de anos e evoluiram separadamente, seguindo um caminho independente".
A questão que agora foi solucionada consistia em saber porque a mesma espécie de ave se encontrava com uma distribuição tão distante.
Até ao momento existiam duas teses. A primeira, a mais "romântica", seria a de que teriam sido os navegadores portugueses a trazer da Ásia a espécie, no século XVI e que esta se teria adaptado bem à região. A outra defendia que a pega-azul tinha uma distribuição mundial muito grande e que, com as glaciações, tivesse ficado reduzida à Ásia e à Península Ibérica.
A hipótese romântica foi descartada com a descoberta, em Gibraltar, de um fóssil com mais de 40.000 anos ...
A tese de mestrado de Pedro Cardia veio esclarecer as dúvidas e defende que a pega-azul é uma espécie autóctone (natural desta região) e endémica (que apenas existe na Península Ibérica). Agora surgem novas questões, nomeadamente, saber onde se refugiou a espécie durante as glaciações que também atingiram a Península Ibérica.
Esta investigação ainda não tem data de arranque marcada ...
A pega-azul é uma espécie relativamente comum, e está distribuída desde a Beira Interior ao Algarve. O seu habitat natural são as matas de azinheiras e sobreiros do centro e sul da Península Ibérica. São ainda vistas com frequência em pinhais, olivais e pomares.
A pega-azul apresenta alguns comportamentos sociais muito curiosos.
É durante os meses de Abril e Maio que a pega-azul inicia o seu período reprodutivo. Geralmente nidificam em colónias, podendo encontrar-se, por vezes, vários ninhos na mesma árvore. A postura é de 5 a 7 ovos que são incubados durante 15 dias exclusivamente pelas fêmeas, sendo estas, entretanto, alimentadas pelos machos.
É uma ave muito gregária, formando bandos que podem chegar aos 100 indivíduos. E para dormir, podem juntar-se vários bandos, que se voltam a separar no dia seguinte, de manhãzinha...
Sómente no início do Verão, quando os juvenis do ano abandonam os ninhos, se verifica a incorporação de novos animais nos bandos já formados.
Em meados de Março, os bandos começam a desagregar-se, quando se verifica uma alteração comportamental nas aves, pois formam-se casais (em alguns casos com lutas entre machos) que se mantêm em colónias.
Nesta altura verificam-se comportamentos muito interessantes de criação cooperativa. Em estudos efectuados, verificou-se que, em apenas cerca de 50% dos ninhos, a criação dos recém nascidos é feito exclusivamente pelos pais, em 30% houve um ajudante externo, em 10% 2 ajudantes, sendo raros os casos com 3 a 5 ajudantes, e mais raros ainda os casos de 9 a 11 ajudantes.
Esta ajuda parece estar relacionada com existência de mais machos do que fêmeas, pelo que inúmeros machos não conseguem atingir o estatuto de “reprodutor”, adoptando assim o de “ajudante”.
Os ajudantes são portanto na sua quase totalidade machos, e dividem-se em 2 tipos: os de “primeira opção”, que nem sequer tentaram reproduzir-se, e os de “segunda opção”, que tentaram reproduzir-se e não conseguiram. A proporção de jovens e adultos nas duas classes de ajudantes è similar, e os papéis de reprodutor e ajudante são reversíveis de ano para ano.
Os ajudantes participam na maior parte das tarefas ligadas à reprodução: defesa do ninho, alimentação dos juvenis, retirada de excrementos dos ninhos, e, em certos casos, alimentação da fêmea durante a incubação.
As crias recebem cerca de 50% da alimentação total do pai, 25% da mãe e 25% dos ajudantes. Dado que os progenitores mantêm mesmo com ajudantes o esforço de alimentação das crias, existirá um reforço na alimentação total que estas recebem, aumentando assim o nº de crias viáveis por ninho.
Estudos referem que, sem ajudantes, a média de crias viáveis por ninho será de 1,6, número que passa para 2,2 com 1 ajudante e até 4,3 com mais de 3 ajudantes.
Os contrário de outras espécies que também manifestam criação cooperativa, não existe normalmente qualquer parentesco entre os pais e os ajudantes. A ajuda parece basear-se numa espera de reciprocidade a prazo: um ajudante conta que lhe devolvam o favor mais tarde, quando dele tiver necessidade ...
É bastante difícil de fotografar pois, além de arisca, não pára quieta mais do que 1 segundo ... Estas fotografias foram obtidas nos pinhais algarvios, entre a Quinta do Lago e Vilamoura.