quinta-feira, maio 22, 2008

Comer (5) - n' O Vitor


Antes de irmos ao TROÇO 2 da GEIRA, e de falarmos na Mata de Albergaria, que tal comer qualquer coisa ?

O melhor sítio onde comi na zona foi no Vitor, em S. João de Rei, Póvoa de Lanhoso.

Não é fácil lá chegar, se não conhece o local. Existe um mapa no site. Se tem GPS, as coordenadas são: 41.62220 / -8.29408.

De manhã tinha feito o PR da Junceda (Trilho das Silhas dos Ursos), que pode ser seguido em http://www.serra-do-geres.com/ja_estive_aqui_ficheiros/viage

m_ao_pe_do_cabril/viagem_ao_pe_do_cabril.htm

, o que me abriu substancialmente o apetite. O que é que eu comi: o bacalhau na fotografia, postita pequenina, como se vê. Regado com um azeite 5 estrelas (um dos melhores de que me lembro, de facto), e acompanhado por um vinho verde, que nem vos digo nada.

À hora que cheguei não havia muitas alternativas, só costeleta de vitela. O cabrito, só aos fins de semana ou por encomenda. Comi umas entradas catitas, pastelinhos de bacalhau, carapaus (ou eram sardinhas ?) de escabeche e saladinha de feijão frade. No fim, um pudinzinho de ovos. Paguei à roda de 20 euros.

E lá abalei para o troço 2 da GEIRA ... que consegui encontrar, graças ao GPS.

Restaurante O Vitor

S. João de Rei, Póvoa de Lanhoso

Tel. 253 909 100

Fax. 253 909 101

Aberto todos os dias Encerra no dia de Natal

Site: http://www.ovictor.web.pt

O também celebrado O Abocanhado, em Terras de Bouro, fica para a próxima.


Fotos tiradas com o meu telemóvel QTEK S200, onde também tenho o OziExplorer

Andar (22) na Geira Romana VI - Andando pela Geira

Para facilidade de acesso, convém escolher intersecções de actuais estradas com a GEIRA, onde é possível deixar um veículo estacionado em segurança. Percorri 2 troços da Geira:

TROÇO 1 – entre as milhas XXIX e XXXIII

TROÇO 2 – entre as milhas XV e XIX

Não se esqueça que, normalmente, terá que voltar para trás, pelo que, para percorrer por exemplo 4 milhas, vá preparado para andar pelo menos 4 x 2 x 1,48 = 11,84 km ... a boa notícia é que o percurso será quase plano !

TROÇO 1


Este troço começa junto à povoação de Campo do Gerês, na EN 307 que a liga à Barragem de Vilarinho das Furnas.

Antes da Geira, porque não uma olhadela à barragem ?

Início do percurso em Google Earth – a barragem, o Campo do Gerés, e o local onde estacionei

O início do trilho está bem marcado, com um poste de design moderno, em ferro “enferrujado”

Mapa do site da CM Terras de Bouro

http://geira.cm-terrasdebouro.pt/main.aspx?menu=44&item=18

O trajecto até à milha XXX, em Google Earth, sendo visível que o traçado acompanhava as curvas de nível (é paralelo à linha de água )

Entre as milhas XXIX e XXX, a vista para a albufeira é deslumbrante

Já mais perto da milha XXX

Milha XXX

Painel informativo referente à milha XXX, em Bouça da Mó, presentemente debaixo de água

Parte do painel informativo referente à milha XXX, onde são visíveis as ruínas de uma mutatio na margem esquerda da ribeira da Mó, perto do local onde esta desaguava no rio Homem

Perto do lugar provável da mutatio, que penso na altura estar submersa (?)

Ponte de madeira (contemporânea ...) sobre a ribeira do Pedredo, já dentro da Mata de Albergaria (a que voltarei mais tarde) sendo vísiveis diversos marcos correspondentes ao traçado submerso da GEIRA

MilhaXXXI

Painel informativo referente à milha XXXI, junto à ribeira do Pedredo, e miliários adjacentes


Milha XXXII – painel e miliários


A milha XXXII (site da CM Terras de Bouro)


Ponte de madeira (contemporânea) sobre o rio Maceira


Ruinas da ponte romana sobre o rio Maceira


Mapa 030 da série M888, escala 1/25.000, com topografia anterior à construção da barragem, que aproveitou parte do vale do rio Homem, no programa OziExplorer. Com este programa, existente em versões para PC e para PDA, é possivel quer planear os percursos com antecedência, quer registar os percursos percorridos, planear, medir, exportar e importar para Google Earth, etc, etc. Tenho os ficheiros dos troços que percorri, que posso enviar caso sejam solicitados.

Referências:

Wikipedia

http://viasromanas.planetaclix.pt/vrinfo.html

http://geira.cm-terrasdebouro.pt/

Andar (21) na Geira Romana V - O traçado da GEIRA

A GEIRA saía de Bracara Augusta, passando actualmente pela zona do Areal, seguindo por Adaúfe, entrava no Concelho de Amares com a travessia do Rio Cávado em Barca de Âncede, e seguia pelas localidade de Caires e Paredes Secas e ao chegar ao Lugar de Santa Cruz, entrava então no Concelho de Terras de Bouro.

Neste Concelho, a GEIRA está muito bem conservada ao nivel do seu traçado e dos seus vestígios arqueológicos.

Em Terras de Bouro a GEIRA percorre as freguesias de Souto, Balança, Chorense, Vilar, Chamoim, Covide, Campo do Gerês e chega, por fim, à Portela do Homem, seguindo depois em território espanhol.

Saindo de Bracara Augusta e ligando os actuais concelhos de Amares e Terras de Bouro, a GEIRA atravessa o que é hoje o território do Parque Nacional da Peneda Gerês PNPG. Marginando o rio Homem entre as zonas de S. João do Campo e a Fronteira da Portela do Homem, ai se internando por terras da actual Galiza.

Andar (20) na Geira Romana IV - A Via XVIII

A Via XVIII do Antonini Itinerarium, popularmente conhecida por GEIRA, é uma das estradas militares construída presumivelmente no ultimo terço do séc. I DC, ligando Bracara Augusta (Braga) e Asturica Augusta (Astorga – Província de Léon, Espanha), num percurso de 215 milhas romanas, aproximadamente 318 km.

O nome original da VIA NOVA (que pode ser lido em vários miliários que conservam esta inscrição) advém de já haver uma outra via que seguia também de Bracara Augusta para Asturica Augusta, mas com um traçado diferente, pois seguia por Aquae Flaviae (Chaves). Esta Via, com mais milhas do que a GEIRA, foi catalogada como Via XVII no Itinerário de Antonino.

A Via XVIII foi começada a construir por Vespasiano (69-74 DC), e os seus mais antigos marcos miliários são de Tito (79-81 DC), seu filho mais velho e sucessor. Meio século depois, sob Adriano (117-138 DC) já era reparada. Uma série de marcos de Caracala (211-217 DC) parece indicar que foi também reparada por este imperador, mas pode ser que tal reposição de miliários fosse só mera propaganda. Porém, os miliários de 236-237 referem, expressamente, um novo arranjo na via, com a inscrição, que já referi ias et pontes tempora vetustate colaps restituerunt...

A construção desta via, reforçou a malha viária, permitindo o reordenamento territorial, a intensa actividade mineira, com destaque especial para o ouro, contribuindo a longo prazo para a emergência de uma entidade histórica que perdurou ao longo dos milénios: a Callaecia.

A GEIRA tem uma construção sólida, um traçado harmonioso e muito bem estruturado, por permitir galgar vários tramos de montanha sem subidas ou descidas muito acentuadas (o que se percebe, dado que era destinada a veículos puxados por animais, que não conseguem vencer inclinações significativas...)

O traçado foi cuidadosamente planeado por arquitectos, engenheiros e pelos gromatici, os topógrafos que, apesar dos utensílios rudimentares, já calculavam com exactidão as distâncias, os declives.

A GEIRA foi construída de tal modo que, apesar de cruzar um espaço montanhoso com serras que chegam aos dois mil metros, só em alguns tramos, pouco extensos, alcança 900 metros. Os miliários de Tito e Domiciano documentam a abertura da via.

O granito e o xisto, que formam o substrato rochoso ao longo de grande parte do traçado da via, foram utilizados de forma abundante, nos pavimentos lajeados, nos muros de suporte, nas obras de arte, nos miliários. Num contexto climático com alta pluviosidade, com pendores significativos, o traçado da GEIRA estava sujeito a processos erosivos intensos, justificando sucessivas obras de manutenção. Os miliários de Maximino e Máximo apresentam um texto muito expressivo, referindo o restauro de pontes e caminhos deteriorados pelo tempo.

Um troço da Geira junto à milha XIV. Os muros de pedra e as lajes no pavimento serão originais ?

Um troço imeditamente antes da milha XXIX (perto da Albufeira de Vilarinho das Furnas)

Andar (19) na Geira Romana III - O Cursus Publicus

A rede viária romana sustentava o funcionamento do Cursus Publicus, essencial ao bom governo do vasto império romano.

Cursus Publicus era um serviço de “correio” que transportava mensagens, documentos oficiais e as receitas dos impostos, de um lugar do Império Romano para outro.

Os três pilares do Cursus Publicus eram as mansiones, as mutationes e os miliarium .

As mansiones eram locais de descanso, onde os viandantes podiam comer, dormir, tomar banho e abastecer-se para prosseguir a viagem. Estas mansiones estavam estrategicamente distribuídas de modo a proporcionar alimentação e repouso no fim de cada etapa do caminho que em média rondariam as 30 milhas (44 km); por curiosidade refira-se que este valor é muito próximo do utilizado entre estações de serviço das nossas actuais auto-estradas.

As mutationes eram pequenas estações de muda de montadas e condutores, separadas por 10-12 milhas (15-18 km), onde se podia trocar de cavalo. Situados à beira da via, estes equipamentos asseguravam o correio, a velocidade dos mensageiros, o trânsito de militares, de funcionários e de todos os caminhantes que, pelos mais variados motivos, percorriam as estradas.

E se fosse possível visitar hoje um antigo mutatio ?

Os miliários (do latim miliarium, original de milia passuum) eram marcos colocados em intervalos de cerca de mil passos, 1480 metros. Os miliários balizavam a via, assinalando as distâncias aos caput viarum, ou seja aos nós rodoviários.

Estas colunas de pedra de base rectangular eram de altura variável, com cerca de meio metro de diâmetro e pesavam cerca de 2 toneladas. Na base estava inscrito o número da milha relativo à estrada em questão. Num painel ao nível do olhar constavam ainda outras informações, como os responsáveis pela construção e manutenção da estrada.


Um troço da uma via romana, a milha XV da Via XVIII (a Geira); à direita, os restos de um miliário. Este troço não se distingue de um qualquer caminho florestal, não fosse, à esquerda, um painel informativo – estamos a 22,5 km de Bragara Augusta (Braga) !


Conjunto de 9 miliários transportados para a Portela do Homem, milha XXXIV da Geira, a Caracala, Tito, Décio, Domiciano, Magnêncio, Maximino e Máximo, Nerva e Adriano, um dos quais indica reparações da via na frase vias et pontes temporis vetustate conlapsos restituerunt


Marcos anteriormente existentes na parte da Geira que ficou inundada pela barragem de Vilarinho das Furnas, actualmente colocados numa estrada florestal na Mata de Albergaria, junto ao Ribeiro do Pedredo, milha XXXI


De outra viagem - a Ponte da Vila Formosa em Alter do Chão, uma das 4 grandes pontes romanas que ainda subsistem em Portugal

domingo, maio 18, 2008

Andar (18) na Geira Romana II - O Itinerário de Antonino

O Itinerário de Antonino (em Latim: ITINERARIUM ANTONINI AUGUSTI) é um registo das estações e distâncias ao longo de várias das estradas do Império Romano, contendo direcções sobre como deslocar-se entre povoações.

Um verdadeiro “mapa das estradas” ?

O Itinerarium foi baseado em documentos oficiais, provavelmente do levantamento levado a cabo à época de Júlio César (Gaius Julius Caesar, 100 AC – 44 AC) e continuado por Augusto (Gaius Iulius Caesar Octavianus Augustus, 63 AC - 14 DC).

Devido à escassez de outras obras tão extensas, é considerada uma fonte inestimável. No entanto, desconhece-se o seu autor, bem como a data da publicação ou redacção. Presume-se que a edição original terá sido publicada no início do século III, embora a que resta actualmente seja datada do tempo de Diocleciano (Gaius Aurelius Valerius Diocletianus, 236 – 305 DC).

Embora o autor seja tradicionalmente reconhecido como Antonius Augustus, resta saber se o nome foi afinal dedicado ao imperador reinante. Caracala, de seu nome Marcus Aurelius Antoninus, pode ter dado o nome ao Itinerário acima referido.

Os Itinerários de Antonino, na edição de Gustav Parthey e Moritz Pinder de 1848 está disponível em Google Books, o que é extraordinário, embora custe mesmo muito a perceber:

http://books.google.pt/books?id=s0oMAAAAYAAJ&pg=PA202&lpg=PA202&dq=INTERA

CONIO+FLAVIO+intereraconio&source=web&ots=2hayQUYTTv&sig=Bg_9qsTH6WZIZ

G1p9-gm_9boni0&hl=pt-PT#PPA202,M1




uma folha referente à VIA XVIII, que referiremos mais tarde

Andar (17) na Geira Romana I - Antecedentes

O general cartaginês Hamilcar Barca entra Península Ibérica com os seus exércitos em 237 AC, através de Cadis. Seguem-se anos de combates contra os exércitos romanos, continuados pelos seus sucessores Hasdrubal e Hannibal Barca.

Os cartagineses são finalmente derrotados em 206 AC por Publius Cornelius Scipio Africanus Major. Os Cartagineses Ibéricos e os seus aliados perderam a guerra. Mas a reconquista da Península Ibérica tornou-se difícil, arrítmica e, consequentemente, atrasada.

Por falta de meios de comunicação ?

O Nordeste da Península apenas entrou directamente no conflito com as legiões romanas quase um século depois, aquando da incursão de Decimus Iunius Brutus, o Galaico, em 137 AC.

Eleito cônsul no ano 138 AC, Décimo Júnio Bruto dirigiu uma campanha, para estabilizar e castigar as tribos rebeldes do território ao norte do Tejo, logo após a morte de Viriato em 139 AC. Viriato tinha feito a vida negra aos romanos, pois tinha-os derrotado sistematicamente em todos combates desde 147 AC (ano em que assumiu a liderança dos Lusitanos) até à sua morte.

Décimo Júnio Bruto estabeleceu o seu acampamento numa ilha, identificada hoje com a de Almourol, nas margens do Tejo, e fortificou Olisipo (actual Lisboa). No seu avanço para o norte teve que fazer frente a inúmeros combates com as populações locais.

Estabeleceu uma posição fortificada em Viseu e, já como procônsul do ano 137 AC, cruzou o rio Douro e entrou na Galécia, território dos galaicos, nos arredores do actual Porto — povo ao qual se associa a origem do nome dos territórios localizados mais ao norte, na actual Galiza; vencidos os callaeci, chegou até ao rio Lima (Lethes) e, perante a recusa dos seus soldados em cruzá-lo pelo temor de perderem a memória (pois corria a lenda de que o Lethes era o mítico "Rio do Esquecimento"), Bruto cruzou-o primeiro e os seus soldados seguiram-no ao sentirem que chamava por eles. Fonte histórica refere uma importante batalha entre os Bácaros (o povo da região) em que estes perderam. Segundo Estrabão chegou a atingir o rio Minho.

O Senado romano concedeu-lhe o título de Callaicus, "Galaico", em 136 AC. Logo depois da expediçâo de Bruto, Roma passou a dominar o teritório entre o Douro e o Minho, muito provavelmente apenas nas zonas costeiras.

Em 113 AC foi nomeado procônsul da Lusitânia, e nessa altura infligiu severas derrotas aos lusitanos, que foram finalmente derrotados. Tem início a consolidação da administração e controlo romanos.

Galaicos e Astúros foram integrados na Hispânia Citerior, uma grande província de Augusto. Com a conquista romana deste território rasgam-se sólidas vias que atravessam as monatanhas, riscam-se os primeiros cadastros, a exploração dos recursos mineiros intensifica-se e acentua-se a primeira uniformização politica da região sob o dominio imperial. Todo este território é, a partir do seculo I DC integrado na provincia romana da Calaecia, com capital em Bracara Augusta (actual Braga).

A Península Ibérica segundo Ptolomeu (83 - 161 DC)