quarta-feira, janeiro 18, 2006

Ver (10) ... As Ophrys

As flores das orquídeas do género Ophrys fazem lembrar insectos. Esta semelhança ajuda a polinização das flores exactamente pelos insectos que mimetizam ...

O género Ophrys está representado em Portugal por 13 espécies, algumas das quais muito raras, só existindo em zonas muito determinadas, como por exemplo a Serra de Palmela.

As que apresento em seguida são das mais vulgares, cuja área de distribuição inclui o maciço calcário da Estremadura (entre a Arrábida e Coimbra) e o Algarve.


Ophrys lutea, num prado da Serra de Montejunto



Pormenor do exemplar anterior


A flor da Ophrys lutea



Ophrys apifera, da Serra do Risco (na Arrábida)



Ophrys fusca, da Serra de Monsanto, Lisboa

Comer (3) ... n’ A Escola

A Escola foi dos restaurantes que me causou uma impressão mais forte e duradoura na primeira vez que lá fui ... Que comida espectacular !

Localizada na aldeia de Cachopos, na estrada EN 253 Alcácer do Sal – Comporta (a cerca de 16 km de Alcácer), está instalado numa antiga escola primária dos anos 40, desactivada em 1982 por falta de alunos, que foi alugada à Câmara Municipal por Henrique Galvão Lopes.

A decoração remete para tempos que já lá vão: nas paredes, além de um quadro de ardósia, estão os mapas geográficos a fazer lembrar os velhos tempos.

O edifício está impecável (até tem um ninho de cegonhas na chaminé !), faltando talvez alguma coisa no capítulo do condicionamento de ar, especialmente no Inverno. Casa cheia, muita humidade, sinal que o ar não é devidamente renovado.


Chegar e começar com a linguiça ou os pimentos, o coelho de coentrada temperado à maneira e o pão da região.

Confeccionada com mão de mestre, a Empada de Coelho Bravo é simplesmente uma delícia. As doses são avantajadas, pelo que o ideal será 3 pessoas comerem 2 doses. Assim sempre provam outras das especialidades, tais como Ensopado de Cherne, Arroz de chocos em camarão, Feijão adubado, Enguias à embarcadiço, Açorda de marisco.

As sobremesas são também de arrasar: Doce da casa de pinhão, Encharcada, Fidalga.




Escusa de pensar ir lá ao fim de semana sem marcar e, além disso, chegar cedo. O serviço é muito simpático, mas por outro lado estamos no Alentejo !




segunda-feira, janeiro 09, 2006

Ver (9) ... a Anacamptis pyramidalis

A Anacamptis pyramidalis, de nome comum Satirião-menor, é uma orquídea terrestre calcícola, ou seja, só existe em zonas alcalinas, resistindo mesmo a zonas muito alcalinas.


Anacamptis junto a Vila Verde dos Francos
Canon EOS300D com EF-S 18-55 a 55 mm, 200 ASA, 1/800 s, f: 8

Pode ser encontrada na zona calcária oeste, entre o Sado e o Vouga, entre o Tejo e o mar, numa faixa de cerca de 60 km de largura, mas também no Algarve. Não existe portanto na zona adjacente a Espanha, desde o Rio Minho ao Guadiana ... embora seja citada por ser a orquídea mais abundante na Península Ibérica.

É reconhecível pela inflorescência em forma de pirâmide compacta (daí o nome da espécie ...) formada por flores rosadas ou arroxeadas, que pode ter uma altura de 30 cm. Tem um cheiro adocicado.

Pormenor do exemplar anterior
Canon EOS300D com EF-S 18-55 a 55 mm, 200 ASA, 1/800 s, f: 8

É uma das espécies incluídas no anexo B do Regulamento (CE) n.o 338/97, cuja introdução na Comunidade é suspensa.


Pormenor da flor da Anacamptis pyramidalis
Canon EOS300D com EF 28-80 a 80 mm, 100 ASA, 1/100 s, f: 16

A raíz desta orquídea (à semelhança de outras), seca e moída, dá um pó fino, chamado “salep”. Uma descrição que encontrei, em língua galega (muito curioso, o galego !) do salep, acessível em http://www.zonalibre.org/blog/clop/archives/075316.html :

Moendo o tubérculo seco de algunhas especies de orquídeas, obten-se un po amarelo, o salep, que se utiliza para preparar unha bebida quente que se bebe en Turquía. Tamén se utilizou como reconstituinte para convalecientes pero as suas propiedades non foron cientificamente probadas. Está formado o po por mucílago, azúcar e almidón. Co mucílago tamén se fai unha xalea para as irritacións dos intestinos.

Para quen queira preparar o salep unha receta: recolle-se o tubérculo lateral e ferve-se en auga ou leite antes de po-los a secar (pasase-lles un fio e penduran-se a secar) e facer o po. Unha culler de po, outra de fécula de pataca, outra de fécula de arroz, sucre, e medio litro de leite. Deixa-se ferver dez minutos e sirve-se con canela e moi quente. Eu non o preparei, cando vaia a Turquía xa o beberei. No caso das lavativas via rectal espero non ter que usa-las.

Anacamptis da Serra da Boa Viagem (Figueira da Foz)
Canon EOS300D com EF-S 18-55 a 41 mm, 200 ASA, 1/400 s, f: 8

Pormenor do exemplar anterior
Canon EOS300D com EF-S 18-55 a 55 mm, 200 ASA, 1/500 s, f: 8

Outras referências:

http://www.botanical.com/botanical/mgmh/o/orchid13.html


quarta-feira, janeiro 04, 2006

Ver (8) ... o Melro-comum

Existem na Europa vários milhões de casais de melro-preto, Turdus merula.
É residente em Portugal, habitando locais de características variadas, como zonas de mata rica em vegetação rasteira, charnecas ou jardins. Alimenta-se de insectos, vermes, bagas e algumas sementes. O voo é ondulante, pousa em campo aberto, caminha, saltita, levanta voo.
Melro prestes a comer uma semente da palmeira Phoenix canariensis
Canon EOS300D com EF 75-300 III USM a 300 mm, 400 ASA, 1/1.600 s, f: 5.6

Mede cerca de 24 a 27 cm de comprimento. As asas têm um comprimento de 117 a 118 mm. Pesa entre 75 e 120 gr.

Melro a abrigar-se da chuva num ramo de Myoporum laetum
Canon EOS300D com EF 75-300 III USM a 300 mm, 400 ASA, 1/125 s, f: 5.6

O macho é facilmente identificável pela sua cor preta bem visível e pelo seu bico e anel orbital amarelo / laranja, enquanto a fêmea tem uma plumagem de tons acastanhados com malhas atenuadas no peito, variando entre do castanho-avermelhado ao cinzento-acastanhado. O juvenil tem cores mais claras e quentes e manchas estreitas claras por cima. A cauda é rectilínea e de comprimento médio.

Melro num relvado de um jardim
Canon EOS300D com EF 75-300 III USM a 300 mm, 200 ASA, 1/1.000 s, f: 5.6

A época de reprodução é durante a Primavera, construindo o ninho em forma de taça com manchas acastanhadas em arbustos ou arvores densas, realizando 2 a 3 posturas, conforme a disponibilidade de alimentos. Costuma pôr cerca de 4 a 5 ovos, cuja incubação demora de 11 a 17 dias. Os juvenis dão os seus primeiros voos ao fim de 12 a 19 dias.

Os melros têm anel orbital amarelo ...
Canon EOS300D com EF 75-300 III USM a 300 mm, 400 ASA, 1/125 s, f: 5.6


Andar (6) ... na Quinta da Regaleira

Situada em pleno Centro Histórico de Sintra, classificado Património Mundial pela UNESCO, a Quinta da Regaleira é um lugar com espírito próprio


A história da Quinta é praticamente desconhecida até 1892, data em que António Augusto Carvalho Monteiro (1848-1920) a comprou aos Barões da Regaleira. Conservador, monárquico, cristão gnóstico, excêntrico, Carvalho Monteiro procurou que todo o espaço da Quinta reflectisse os seus interesses e ideologias. A Quinta é a teatralização dos seus sonhos e ideias.


Edificado nos primórdios do Século XX, ao sabor do ideário romântico, este fascinante conjunto de construções, nascendo abruptadamente no meio da floresta luxuriante, é o resultado da concretização dos sonhos mito-mágicos do seu proprietário, aliados ao talento do arquitecto-cenógrafo italiano Luigi Manini (1848-1936).


O célebre "Monteiro dos Milhões" nasceu no Rio de Janeiro em 1848, filho de pais portugueses, que cedo o trouxeram para Portugal. Licenciado em Leis pela Universidade de Coimbra, Monteiro foi um distinto coleccionador e bibliófilo, detentor de uma das mais raras camonianas portuguesas, homem de cultura que decerto influenciou, se não determinou mesmo, parte bastante razoável do misterioso programa iconográfico do palácio que construiu para si, nas faldas da serra de Sintra


Luigi Manini foi um arquitecto, pintor e cenógrafo (especializado em ópera) italiano. Entre outras obras em Portugal destaca-se o Palácio da Regaleira e o Palácio Hotel do Bussaco (que tenho que “ver” um dia ...). Manini veio para Portugal em 1876 para trabalhar no Real Teatro de São Carlos, onde veio a estar entre 1879 e 1895. Tinha trabalhado no La Scala de Milão e gozava de muito boa reputação no meio artístico.


A imaginação destas duas personalidades invulgares concebeu, por um lado, o somatório revivalista das mais variadas correntes artísticas - com particular destaque para o gótico, o manuelino e a renascença - e, por outro, a glorificação da história nacional influenciada pelas tradições míticas e esotéricas.


A Quinta da Regaleira é um lugar para se sentir. Não basta contar-lhe a memória, a paisagem, os mistérios. Torna-se necessário conhecê-la, contemplar a cenografia dos jardins e das edificações, admirar o Palácio dos Milhões, verdadeira mansão filosofal de inspiração alquímica, percorrer o parque exótico, sentir a espiritualidade cristã na Capela da Santíssima Trindade, que nos permite descermos à cripta onde se recorda com emoção o simbolismo e a presença do além.


Há ainda um fabuloso conjunto de torreões que nos oferecem paisagens deslumbrantes, recantos estranhos feitos de lenda e saudade, vivendas apalaçadas de gosto requintado, terraços dispostos para apreciação do mundo celeste.


A culminar a visita à Quinta da Regaleira, há que invocar a aventura dos cavaleiros Templários, ou os ideais dos mestres da maçonaria, para descer ao monumental poço iniciático por uma imensa escadaria em espiral. E, lá no fundo com os pés assentes numa estrela de oito pontas, é como se estivéssemos imerses no ventre da Terra-Mãe. Depois, só nos resta atravessar as trevas das grutas labirínticas, até ganharmos a luz, reflectida em lagos surpreendentes.










Informações úteis:

Até Fevereiro de 2006 será apenas possível visitar o 1º piso do palácio, uma vez que está a ser preparada uma Exposição sobre o arquitecto Luigi Manini.

A Quinta da Regaleira está aberta todo o ano. Abre todos os dias às 10h00 e fecha às 17h30 de Novembro a Janeiro, às 18h00 de Fevereiro a Abril e em Outubro. De Maio a Setembro fecha às 19h30.

O visitante pode optar por fazer a visita livre (5 euros) ou guiada (10 euros). A visita guiada, na minha opinião, vale mesmo a pena.


Referências:

http://www.cm-sintra.pt/Artigo.aspx?ID=2907
http://www.maconaria.net/regaleira.shtml
http://pt.wikipedia.org/wiki/Luigi_Manini
http://www.guiadacidade.pt/v3_index/artlazer/12112/Passeios/