quinta-feira, junho 12, 2008

Andar (23) - na Mata de Albergaria

Andando na Mata de Albergaria, sente-se como é extraordinário que ainda hoje exista um conjunto natural tão bem preservado, e ainda se percebe que isso só é de facto possível porque a zona sempre foi escassamente povoada.

A Mata de Albergaria é acessível pela Estrada do Sarilhão, que é de facto uma estrada florestal construída paralela à Geira, a uma cota mais elevada, quando da construção da barragem de Vilarinho das Furnas.

Entrada na Mata de Albergaria, na Estrada do Sarilhão, vindo do Campo do Gerês

Esta estrada tem início, do lado do Campo do Gerês, entre as milhas XXIX e XXX da Geira, no local onde estacionei quando percorri o troço 1 da mesma.

A albufeira está sempre presente do nosso lado esquerdo, à medida que fazemos o trajecto para Norte / Nascente, onde iremos apanhar a estrada Caldas do Gerês - Portela do Homem. A estrada do Sarilhãotem cerca de 7 km de extensão. A Mata continua se virar para a Portela do Homem.

Mas não se pode pescar ... o que é que se esperava ?

A Mata localiza-se na zona de fronteira das regiões biogeográficas eurosiberiana e mediterrânica, o que determina que espécies da flora mediterrânica como, por exemplo, o sobreiro (Quercus suber), o medronheiro (Arbutus unedo), o loureiro (Laurus nobilis) e a gilbardeira (Ruscus aculeatus), testemunhos de migrações ocorridas em tempos passados mais quentes do que os actuais, coabitem com espécies eurosiberianas como o carvalho-alvarinho (Quercus robur) do qual existe um carvalhal secular, teixo (Taxus baccata), e o azevinho (Ilex aquifolium).

As espécies presentes na Mata de Albergaria têm elevado valor florístico, quer pelo seu estatuto de conservação, quer pelo seu estatuto biogeográfico, nomeadamente espécies endémicas, lusitânicas e ibéricas, existindo ainda algumas espécies raras ou ameaçadas da nossa flora, como, por exemplo, o feto-do-gerês (Woodwardia radicans), o narciso-trombeta (Narcissus pseudonarcissus subsp. nobilis), o lírio-do-gerês (Iris boissieri) e a arméria (Armeria humilis subsp. humilis).

Sabia que o azevinho é uma árvore ? Foto tirada junto à ponte de madeira sobre o ribeiro do Pedredo

O azevinho é actualmente uma espécie com problemas, dado ter sido sobre-explorado durante muitos anos para adornos natalícios. A sua procura para este fim foi tão intensa que acabou por levar à proibição da sua recolha no nosso País, sendo hoje uma espécie rara e em vias de extinção. É uma espécie protegida.

Os problemas aparecem porque a regeneração natural não compensava a recolha abusiva, pois é uma espécie de difícil produção por semente, pois demora cerca de um ano a germinar. Na Natureza, a germinação inicia-se, portanto, com um ano de atraso e só se completa na segunda ou terceira Primavera. E isto é só a germinação da semente, ainda falta o crescimento ...

Um facto curioso é que a ingestão dos frutos por aves e mamíferos actua como factor de quebra de dormência, devido à acção dos ácidos a que são sujeitos os endocarpos resistentes quando atravessam o tubo digestivo. As sementes são expelidas junto com os restantes excrementos que funcionam como fertilizante. E assim germinam muito mais rapidamente!

Assim que este mecanismo foi compreendido, foi possível a criação em viveiros de azevinhos, não recorrendo a este processo natural, obviamente, mas usando os mesmos produtos químicos para acelerar a germinação. Eu comprei um azevinho, que tenho num vaso no meu escritório ...

Os medronhos estavam maduros, no início de Novembro

Aspecto da Mata

A baixa presença humana nesta mata não rompeu, até há poucos anos, o frágil equilíbrio do seu ecossistema, cuja riqueza e variedade contribuíram para a sua classificação pelo Conselho da Europa, como uma das Reservas Biogenéticas do Continente Europeu. É também, nos termos do Plano de Ordenamento do Parque, classificada como Zona de Protecção Parcial da Área de Ambiente Natural.

Entretanto, o peso humano tornou-se excessivo, em particular nos meses de Verão, e a regeneração dos componentes naturais passou a fazer-se mais lentamente, sendo já visíveis os seus efeitos nocivos.

Na Estrada do Sarilhão é proibido o estacionamento ou a paragem de veículos de forasteiros. Atenção que durante os feriados e fins de semana da época de Verão, é também proibido todo o trânsito motorizado a turistas.

Entrada para a Mata, do lado da estrada Portela do Homem – Caldas do Gerês. Pormenor curioso – nunca tinha estado num local onde os “residentes e naturais” têm direitos diferentes dos visitantes.

Troço da Ribeira da Maceira

Um carvalho