domingo, novembro 20, 2005

Ver (6) ... o Flamingo-comum

Existem em Portugal poucas colónias de flamingos-comuns, Phoenicopterus ruber, mas cada uma tem muitos indivíduos.

Quando no solo, os flamingos parecem brancos, mas em vôo parecem nuvens cor-de-rosa. Voam em linha, vencendo grandes distâncias.
4 flamingos à procura de comida, rio Tejo, junto ao Parque das Nações

O pescoço e as pernas são muito compridas, e o bico é pequeno, forte e curvado para baixo, o que lhe permite procurar comida vasculhando na lama em águas pouco profundas, com o bico virado ao contrário. Vivem em lugares próximos da costa, sapais, pântanos, lagos e lagoas salobras. A fêmea só põe um ovo por ano que incuba sentada em cima dele, num buraco de barro que serve de ninho.

Os flamingos voam de pescoço esticado...

As fotos que apresento foram tiradas no estuário do Tejo, no lado de Alcochete e no lado de Lisboa. A quem quiser ver flamingos, deixo as minhas sugestões:

Do lado de Lisboa, o melhor local é no Parque das Nações, junto à Ponte Vasco da Gama, na maré vazante. Estacionar junto à foz do Rio Trancão e andar a pé para o lado da foz.

Na margem Sul do Tejo, o acesso, mesmo pedonal, é muito difícil nas salinas de Alcochete, onde é vulgar quem atravessa a Ponte Vaco da Gama ver um bando de flamingos.

... e em formação de linha

O melhor local será logo à saída de Alcochete pela EN 118 – IC3, que ruma ao Porto Alto. No local onde a EN atravessa a Ribeira de Pegos Claros (Ribeira das Enguias) existem diversos sapais, de ambos os lados da estrada.

Quando os flamingos estão do lado esquerdo (lado Norte, lado do Rio Tejo), o acesso é difícil, dado tratar-se de uma piscicultura privada de acesso reservado.

Quando estão do lado direito (lado Sul), aí é possível a aproximação a cerca de 50 a 100 m. Vá devagar, que eles fogem ...

Grupo de flamingos junto à Ribeira das Enguias

Quando o virem, os flamingos afastam-se ...

Terá que porfiar, muitas dias percorri estes locais sem ver os flamingos, ou vendo-os, estavam muito longe para os conseguir fotografar. Leve no mínimo objectivas à roda dos 500 mm (para as máquinas digitais com um factor de 1,6, basta uma 300 mm...) e um apoio – tripé ou monopé.

Flamingo no Tejo, ao entardecer


Ver o arquivo (2) ... Prohibido el Paso / Proibida a entrada

Antes do 25 de Abril, passar a fronteira para Espanha não era muito fácil, especialmente para os homens e rapazes (penso que a partir dos 14 anos, mas de facto já não me lembro bem...). Não bastava o BI, ou mesmo o passaporte, eram também precisos documentos militares. E mesmo assim, dependia do bom humor do guarda da fronteira...

Havia, no entanto, excepções. Uma vez por ano, por ocasião das festas em honra de S. Bartolomeu, a fronteira de Portelo, hoje integrada no Parque Natural de Montesinho, abria (estavam muito longe os tempos actuais da livre circulação entre Portugal e Espanha...). Lembro-me de a ter atravessado sem necessidade de mostrar quaisquer documentos.
Era (e ainda é) o caminho mais rápido entre Bragança e Puebla de Sanabria, localidade perto do Lago de Sanabria, espectacular lago de montanha, ainda hoje muito bem preservado.


“Prohibido el paso”, Puebla de Sanabria, 1973


Em 1973, Marcelo Caetano governava em Portugal e Franco em Espanha. Também por lá as coisas não eram nada fáceis ... em ambos os países haviam muitas coisas que eram proibídas !

Tirei esta foto a 24 de Agosto e em 11 de Setembro, o Presidente Allende foi deposto e morto, no Chile, por um golpe militar de Pinochet.

Vejam só o que se passou entretanto... Franco morreu em 1975, Caetano em 1980, e hoje, passados 32 anos, apenas Pinochet ainda está vivo. Vai fazer 90 anos no próximo dia 25 e tem andado a ver se consegue fugir à justiça ...

“Proibída a entrada”, Bragança, 1973

Comer (2) ... no Manuel Júlio

Quem está na região da Bairrada e não gosta de leitão, vai ao Manuel Júlio, em Barcouço, mesmo à beira da EN 1, cerca de 10 km a Norte de Coimbra.

Come-se muito bem no MJ. A lista das especialidades da casa é muito extensa (4 pratos do dia em cada dia), onde destaco as línguas de bacalhau cozidas com grão ou panadas com açorda, cozido, arroz de pato, filetes de polvo com arroz de berbigão, lulas recheadas, bacalhau com broa, chanfana, favas estufadas com entrecosto, lampreia na época ...
Há ainda leitão assado, todo o tipo de peixe cozido ou grelhado e 6 tipos de bifes.

Mas eu vou ao MJ comer Cabrito Assado no Forno, especialidade do Chefe António Duarte, acompanhado com grelos cozidos, arroz e batatas assadas. Tenrinho, bem assado, com um molho a saber levemente a pimenta (um pequeno contágio dos vizinhos leitões...), uma maravilha !


O pão (com mistura de milho) está normalmente quentinho, e é difícil resistir-lhe. A seguir, basta ½ dose de cabrito assado no forno (a € 8,80, mas se tiver muita fome ou forem 2 pessoas, 1 dose por € 12,50), acompanhado por um tinto Quinta das Bageiras 2002 (9 €), ou se for um dia especial , pelas Reservas 2001 ou 2003 por € 16. São preciosos nectares !

Terminar com 1 café e um pastel de nata.

terça-feira, novembro 08, 2005

Andar (3) ... na Lagoa da Vela

A Lagoa da Vela, localizada na freguesia do Bom Sucesso a norte de Quiaios, é um dos marcos da região da Figueira da Foz, tendo sido um local desde sempre procurado para os piqueniques das famílias residentes nos arredores, e a sua praia fluvial era muito concorrida nos meses de maior calor.
Diz a história ter o nome da freguesia origem no facto de antigamente se acreditar que as águas das lagoas eram milagrosas e curarem diversas doenças a quem nelas se banhasse e rezasse a Nossa Senhora dos Remédios, padroeira da freguesia. Como toda a população dizia que as águas eram “um sucesso”, assim teve origem o nome da povoação.


A Lagoa da Vela

Quem passeia pela Serra da Boa Viagem e vai seguindo a rota das lagoas, é com agradável surpresa que desemboca neste local de aspecto paradisíaco: um espelho de água, rodeado por densa vegetação e pinhais, onde ainda se ouve o grasnar dos patos selvagens.

Possui um ambiente que inspira uma imensa calma a quem procure um sítio isolado para passar umas horas de descontracção e solidão na companhia de um bom livro, principalmente na altura da primavera e início do outono. Está razoávelmente ordenada, tem bons acessos, e infraestruturas de lazer.

Ancoradouro abandonado na Lagoa da vela

Infelizmente, a exploração agrícola, entre outros factores, conduziu a um elevado índice de poluição das águas, e por essa razão não é hoje permitido tomar banho nesta águas.

É considerada um dos locais de grande potencial turístico da zona e merece bem uma visita. A Lagoa da Vela conta presentemente com algumas infra-estruturas, como dois restaurantes, parques de estacionamento e circuito de manutenção, além de iluminação publica. E existem orquídeas nas margens ...

Ver (4) ... a Garça-real

A garça-real, Ardea cinerea, é a garça europeia mais abundante e espalhada. Encontra-se em habitats de água doce pouco profunda, com árvores nas margens, e também em costas marítimas. Estas incluem rios, ribeiros, deltas, pântanos, estuários, lagos, represas, albufeiras, zonas inundadas, lagoas de aquacultura, arrozais, campos irrigados, valas, canais, diques, lagoas de ETARs e, raramente, lixeiras.
Garça-real num lago de um campo de golfe no Algarve

Faz ninhos em grandes colónias barulhentas em árvores perto da água.

Tem 2 posições de observação, com o pescoço encolhido (e aí parece atarracada...) e toda esticada, podendo aí chegar a 1 m de altura. A envergadura pode chegar aos 2 metros.

Garça-real em posição de observação com o pescoço encolhido

Garça-real em posição de observação com o pescoço esticado

É uma ave de patas longas e pescoço muito comprido, e bico em forma de punhal. Apresenta a cabeça e pescoço esbranquiçados com marcas escuras que contrastam com as asas e dorso cinzentos.

Permanece estática à espera da presa, que captura com um rápido movimento do bico, o que é aliás um comportamento típico das garças. Das outras garças presentes em Portugal (garça branca, garça vermelha e garça boieira) falaremos mais tarde...

Alimenta-se de peixe, anfíbios, pequenos mamíferos, répteis, insectos e, ocasionalmente, de crustáceos, moluscos, minhocas e aves.

Garça-real após ter capturado um peixe

Voa com o pescoço encolhido (distinguindo-se assim das cegonhas que voam com o pescoço estendido) batendo as asas de forma lenta e pesada.

Garça-real em vôo, com o pescoço encolhido, após ter capturado uma presa

A garça-real espécie encontra-se em expansão na Europa, embora os seus efectivos populacionais possam sofrer drásticas reduções em invernos rigorosos. Em Portugal, a garça-real é principalmente uma espécie invernante, embora exista uma pequena população reprodutora de 200-300 casais. As principais ameaças a esta espécie são a destruição do habitat e a perseguição humana.


Referências:

http://www.naturlink.pt/canais/Artigo.asp?iArtigo=6469&iLingua=1

Guia FAPAS das Aves de Portugal e Europa, ISBN 972-95951-0-0

quinta-feira, novembro 03, 2005

Andar (2) ... na Serra de Montejunto

A Serra de Montejunto fica situada apenas a cerca de 40 km a Norte de Lisboa, entre a A1 e a A8, e é um símbolo de beleza selvagem e extraordinária que urge preservar, cujos acentuados relevos, formações calcárias, misteriosas grutas e a diversidade animal e vegetal a tornam um património natural inigualável.

A sua morfologia imprime-lhe um carácter de inacessibilidade que inviabiliza qualquer povoamento humano. Devido ao seu microclima característico de transição entre a influência marítima e continental, e às condições geomorfológicas desta serra, a sua fauna e flora são muito distintas das dos ecossistemas envolventes.

A sua estrutura geológica proporciona a existência de várias dezenas de grutas e algares distribuídas por todo o espaço da serra, no entanto a sua exploração, pelos riscos envolvidos, está reservada aos especialistas. É outra história ...


Dedaleiras (Digitalis purpurea)

É uma Área de Paisagem Protegida desde 1999, e Sítio da Rede Natura 2000 e é parte integrante do Maciço Calcário Estremenho, onde se encontra o ponto mais alto da Região Oeste. É pequena (15 km de comprimento) e de baixa altitude (666 metros). Tem acessos rodoviários por Pragança, Vila Verde dos Francos e Abrigada.

Aspecto do pinhal da Serra de Montejunto


O coberto arbóreo tem sido quase totalmente destruído pelos incêndios de Verão, o mais devastador dos quais em Setembro de 2003.

Porque vale então a pena ir à Serra de Montejunto:

· Pela vista do Miradouro da Salve Rainha, onde em dias claros e limpos podem-se avistar as Berlengas e o Sítio da Nazaré
· Pelo Convento e Real Fábrica de Gelo, construída para abastecer Lisboa de gelo ... em 1741 !
· Pela vegetação que restou, especialmente o castinçal
· Na Primavera, pelas orquídeas, mas isso será outra história ...

Na Serra de Montejunto, ainda resiste o castinçal mais meridional de Portugal, talvez por estar perto de um quartel da Força Aérea ... Pois não creio que o espírito dos frades dominicanos que o plantaram no século XVIII (os mesmos que construíram o Convento e a Real Fábrica de Gelo) ainda o proteja. É um sítio belo e mágico.

O castanheiro é uma árvore de folha caduca, que está espalhada um pouco por todo o país, mas predomina nas zonas com altitudes superiores a 500 metros e com baixas temperaturas no Inverno (Vila Real, Bragança, Guarda etc.),

Os castanheiros chegam a atingir 45 metros de altura e a formar copas com 30 a 40 metros de diâmetro, e têm um período de vida muito elevado, chegando ao milhar de anos ...

Distingue-se o castinçal, que é um povoamento de castanheiros bravos (não enxertados) destinados à produção de madeira, dos soutos, povoamentos de castanheiros mansos, enxertados, para a produção de castanha.

Castinçal de Montejunto


Referências para consulta:

http://www.cadaval.org/museu/fabricadogelo.htm

http://www.bib-lousa.rcts.pt/os_neveiros.htm

http://www.alambi.net/serra_montejunto.pdf

Comer (1) ... no Típico da Bairrada

Bem, confesso que adoro leitão à Bairrada. Desde que me lembro que sempre que posso, passo na zona na hora das refeições ... Por esta razão, escolhi para inaugurar a minha lista de restaurantes preferidos o local onde prefiro comer na Mealhada: o restaurante O Típico.

É um restaurante familiar (ainda me lembro da D. Etelvina há uns 20 anos atrás...) onde o assador José Mendes assa o leitão com mestria. Mas o resto da cozinha está perfeitamente à altura !

Em si não é complicado: é barrar um leitão com uma massa feita com banha, alhos pisados, sal grosso e pimenta, atravessá-lo num espeto e coser a barriga e o pescoço com linha, e metê-lo num forno durante cerca de 2 horas. Para que a pele fique estaladiça, é preciso “constipá-la”, ou seja, retirar por diversas vezes o animal do forno de forma a sofrer um choque frio. Acompanha com batatas fritas em rodelas e salada.

Mas os factores de sucesso de um bom leitão passam por diversos pormenores tais como a qualidade do animal e o seu abate, os alhos (mais secos ou menos), a temperatura do forno, ou até o tempo que as batatas estão em água depois de descascadas. São muitas histórias ...

Com as tripas do leitão faz-se na Bairrada cabidela (em alguns locais, como no restaurante Simões, cabidela de batata) que no Típico é cabidela de arroz. Bem quentinha, é mesmo uma maravilha ...

Comece pela cabidela (se fôr sózinho peça meia-dose) por €5, acompanhe-a com um espumante tinto (o do Típico tem um nome estranho para um vinho da zona, o “el Dorado”, mas enfim ...) e depois peça o leitão (€10,50 a dose). Escusa de comer o queijo de entrada e não abuse do pão.

A sobremesa poderia ser melhorada ... mas um pastel de Tentúgal com o café é um bom remate para uma excelente refeição.

Restaurante O Típico na hora do jantar
Canon EOS300D com EF-S 18-55 a 18 mm, 1.600 ASA, 1/25 s, f: 3,5
Se está na zona e não gosta de leitão, espere pelo próximo restaurante ...